segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Galopeira

http://www.youtube.com/watch?v=EcduNFfiqbw

Origem do Fogo, Socó e Ariranha

Num Casiri, os antigos ficaram muito bêbados. Pegaram flauta de janejarã ("nosso dono"), e ficaram brigando para ver quem ia tocá-la. Janejarã gosta muito de tocar flauta. Os antigos deixaram cair a flauta e ela quebrou. Janejarã ficou muito bravo e foi embora. Disse que não queria mais morar com os antigos. Ele foi embora sozinho. A mulher de janejarã estava grávida de gêmeos, e eles falavam de dentro da barriga -"bora minha mãe, atrás de nosso pai, agente mostra pra vc o caminho". E foram atrás de janejarã.
-"Pega folha pra eu brincar minha mãe", disse um dos gêmeos. Ela foi pegando umas folhas pelo caminho para distrair os dois. Quando foi pegar uma dessas, marimbondo que tava na folha mordeu sua mão, e ela ficou muito brava: - "Por que vocês ficam me pedindo folha? Agora marimbondo me ferrou!" -, e bateu neles. Os gêmeos ficaram com raiva da mãe e decidiram não falar mais para onde ia o caminho. A mulher de janejarã seguiu então o caminho da onça, e achou jawarajarã, o dono da onça, que disse que queria tê-la como cria. Mas depois essa onça ficou com fome, muita vontade de comer carne, e matou a mãe. Abriu-lhe a barriga e tirou os dois gêmeos. - "Vou criar". Escondeu os dois embaixo do barro. Quando filhos da onça chegaram disseram -"que cheiro é esse minha mãe, eu quero comer." -"Não, minha criação ninguém vai comer", respondeu a onça.

Depois o Mutum cantou "FIU,FIU", e contou para eles onde mãe da onça tinha matado a mãe deles. Foram lá e acharam os ossos, e um dos gêmeos começou a montar de novo como era a mãe deles. Quando tinha já quase conseguido, seu irmão chorou "minha mãe, minha mãe", e os ossos caíram todos. "Vou fazer de novo, mas agora você não pode chorar, meu irmão; você não quer ver como vivia nossa mãe?" E ele montou de novo como era mãe dele, demorou muito. Quando quase pronto, irmão dele chorou de novo e caiu tudo novamente. Depois de mais uma tentativa levada ao fracasso pelo choro do irmão, ele desiste: "agora não vou mais montar como era nossa mãe, você sempre chora e me dá muito trabalho." Eles foram embora muito bravos com a mãe da onça, que matou a mãe deles.

Enquanto isso todos os filhos da onça tinham ido caçar. Começou a chover muito e o rio cresceu demais. Os filhos da onça vinham voltando trazendo panakõ cheio de caça, e tinham de cruzar o rio por uma ponte. Quando estavam no meio da ponte, piranha quis roer o pau com o dente que parece serrote. Roeu, roeu, e dois filhos da onça caíram no rio. Um deles teve que nadar muito, e virou ariranha. O outro teve que voar para poder fugir, e virou socó.

Os dois filhos de Janejarã, para escaparem da inundação, subiram no alto de um pé de bacaba. O rio quase chegou lá em cima. "Vamos jogar bacaba no chão pra descobrir quando o rio já baixou." Jogaram e TÓIM, ainda tinha água. Jogaram de novo e POM, água tinha baixado. Quando chegaram embaixo, tava cheio de peixe quase morrendo na terra. "Bora fazer moqueado de peixe meu irmão, mas como agente vai pegar o fogo? Lá tá o Urubu fazendo fogo, bora buscar fogo com o Urubu". Buscaram o fogo e ficaram fazendo moqueado de peixe.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Lévi-Strauss


Os mitos são construídos com base numa lógica das qualidades sensíveis que não faz uma nítida distinção entre os estados da subjetividade e as propriedades do cosmos. Contudo, não deve se esquecer que esta distinção correspondeu, e ainda corresponde, em enorme medida, a uma etapa do desenvolvimento do conhecimento científico e que, de direito, senão de fato, está condenada ao desaparecimento. Neste sentido, o pensamento mítico não é pré-científico; antes, antecipa em relação ao estado futuro de uma ciência que progride sempre no mesmo sentido, como mostram seu movimento passado e sua orientação atual.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Macapá - Andréa Bernardelli




O tempo e a Cangibrina

Cheguei em sampa há 5 dias, esperando ver as 4 da manhã empunhando uma breja, ao contrário do habitual café do despertar florestal no escuro ainda. Aproveitar a euforia etílica e falar de coisas à toa, de coisas boas, do que fosse. Me dirigir as mulheres como se só fossem elas no mundo.

Eis que cheguei aqui e dei de cara com uma típica manhã paulista. Meu pé quebrado me deixa largado no tempo, alongando a tarde no sofá com um gato alheio ao tempo. Saturno está no mesmo local em que estava quando nasci. E eu vou aguardar mais uns dias antes de me jogar em sampa por horas e horas.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Era considerado porque ficava na cantina, administrava a grana e as compras de todos. Viu o cachorro de um conhecido solto. "prende lá, cabelo". Prendeu nada. mais tarde, o mesmo cachorro vagando perto de seu barraco. "amarra esse cachorro logo ai antes que ele suma cabelo". Amarrou. O dono chegou com mais um, cada um com uma 765, 9 ou 10 tiros, não sei. Puseram na cabeça do cabelo. Xingaram, falaram várias, humilharam o cabelo. Os dois saem e o parceiro de cantina abre a gaveta. Uma 12, cano cerrado. "Mata eles cabelo". - Se eu mato um o otro me pega.
Mas esperou com raiva, carregou cartucho com cacos de maldade, pé de panela de ferro cerrado, pedaço de facão, esfera de rolamento. Espreitou o cara, com raiva, querendo a desforra. Quando via o cabelo na descida do grotão, ele caia pro mato. Seus irmãos viram que daria merda. Procuraram cabelo, isso não pode ficar assim. Tá bom, se ele vier pedir desculpa está pacificado. Ele veio. "Foi mal cabelo, eu tava mal aquele dia, tinha fumado muita nóia. Tô errado".

-"até hoje ele me liga"

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

História aflitiva

Um fim de tarde tranquilo, no pátio de uma casa beradeira no alto rio Aripuanã, a uns 10 km da divisa entre Mato Grosso e Amazonas. Eu tava feliz porque pegara horas antes o primeiro Tucunaré de minha vida, bem grande, e na expectativa pelo jogo brasil e argentina. Agente partiria dia seguinte, então o clima estava descontraído, as duas famílias nos recebiam bem. Bem de tardinha, um futebol gostoso com os adultos, a criançada e as meninas. Lá pelas tantas chutei assim de repente um torrão de terra dura, e meu dedo doeu. Olhei e vi o que parecia ser uma pedra que entrara no cantinho do meu dedo, o que me deu aflição. Achei melhor tirá-la o quanto antes, e pedi um alicate.

Não conseguia porém firmar a pedra no alicate para puxar, quando um cidadão viu e disse 'rapaz, para com isso que isso aí é seu osso'. Ai vi a encrenca. Seu Jair olhou e disse experiente: pode salgar.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

AGARRAMENTOS 1



E desde que as coisas se mantivessem despejantes não haveria razão de não ser cada empreita de um novo dia valiosa por si. existe um mundo virtual que pela sensação de pertencimento a uma coletiva onda ilusória nos atrai travestido de realidade no sentido adornado do termo, a busca era de, já que distante do real legitimado pela partilha, manter seu cabeça antenado em vibrações do momento mundial até acima das copas das árvores