terça-feira, 31 de agosto de 2010

FLASH DE MARANHENSES MEMÓRIAS

Em Barreirinhas um primeiro contato coma intimidade de uma casa do norte numas noites dormidas entre o balançar compartlhado das redes. Uma descida de barco entre os capilares braços das reentrâncias maranhenses, onde o mar se alonga na terra pelos mangues adentro. Cozinhando e fumando no porão do barco com meu parceiro. Minha primeira viagem, lembranças de liberdade. dia 30 de dezembro de 99 uma ida de barco num forró em mandacarú. Uma praia que parecia jogada num canto do mundo e troncos retorcidos brotando da areia. Elas eram resquícios arqueológicas da casa dos insetos que foram um dia fincadas na terra. Eu e meu parceiro nos perdemos nas dunas, brigamos no desespero no meio do sol, até que abençoado seja peitamos de novo no rio preguiça, remamos de volta com um casal amigo circense bonitos eles. Dia 31, o da virada, eu vi um milagre na terra, um colorido divino, toda a volta do rio preguiça brilhava de plancton, que só apareceu nessa noite. Incrível. Dormimos aos 15 minutos do dia 1. Meu parceiro escapava dos galanteios de uma mulher feia enquanto lia cortázar. Dona Rosa nos acolheu bem em sua casa, e quando no fim da tarde a gente banhava no poço uns olhos curiosos de moças nos espreitavam por entre as varas da cerca, a gente não sabia bem o que achar daquilo. Meu parceiro tomou uma dentada de rato na ponta do dedão do pé enquanto dormia na rede. Um marinheiro era responsável por um farol num lugar isoaldo, ele era isolado, e amenizava o isolamento com conhaque de alcatrão e leite moça. Pulei no mar do barco e disseram "olha o Mero", ele te come vivo. Nadei apressado com medo.
De volta a Alcântara da festa em Cajueiro não tinha pouso, até que a gente teve uma idéia boa. Pulamo pra dentro da igreja Batista, armamos as redes meio emaranhadas, dormimo mal, um chutando o outro. Depois de partir vimos que esquecemos uma faca querida. Justificamos ao pastor: que esquecmos a faca com um amigo, ligamos pra ele, pedimos que jogasse no galpão da igreja, que a gente pedia pro pastor pegar pra nóis. Parece que ele acreditou, tenho a faca até hoje.
Uma mulher bem negra velha contava dos tempos antigos em alcântara quando eles iam em noite de lua buscar água potável longe pra escapar do sol diurno. Imaginei a pele negra jovem dela brilhando na lua e me apaixonei pelo passado um pouco. Pelas ruínas das histórias dos lugares.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

3 despertares

Tião acorda se coçando, sua roupa da noite é a mesma do dia, dorme numa carroça forrada com colchonete num galpão do lado da casa dos tratores e motores, as galinhas e os cachorros e os colegas em volta dele. Acordar ou estar dormindo são estados parecidos pois seu despertar é o voltar para uma prisão da qual não vê saída. Tião não tem perspectivas para o dia de hoje nem para a vida de agora. Se cair e se cortar no trabalho, morre ali, apodrece antes que alguém descubra.

Pâmela acorda caprichosa, faz charme desde o primeiro espreguiçar. Ela tem 34 anos e ama muito, mas não tem o que amar ainda, por isso tantos gestos e coisas, um aguardo que ela cultiva. Ela se arruma cedo pra ir trabalhar, tem 8 lâmpadas em volta do espelho. Se entristece com as feiúras suas que aparecem bem de perto. mas se produz e se anima. Se veste. Toma seu café curtindo sua intimidade, compartilha consigo mesma, ela foi feita para ser casada, e sabe disso, aguarda em paz.
John Tuffo acorda pensativo, de uma noite longa, e se conforta nos lençóis. O que seu dia vai ter de um pouco chato ele compensa já de manhã no travesseiro, no lençol branco, se renova num berço de quem já é crescido. Pensa no que virou de repente um sorriso perene e ri de canto de boca. Manda um bom dia pra longe, antes de abrir o olho. Tuffo está em construção, e as manhãs são horas importantes de planejamento entre o mestre de obras, os peões, os arquitetos, a publicitária. Tuffo acorda disposto para mais um dia do que ele não esperava e que tanto o faz feliz, um par de olhos que virou seu leste, seu rumo.

domingo, 1 de agosto de 2010

NUMA GALÁXIA DISTANTE...

A comissão inter espécies de localização e proteção de povos auto centrados localiza numa galáxia remota do sistema grau 30 enquadramento X um novo povo isolado. Autodenominam-se "terráqueos", pelo que explica Grenser Glauser, coordenador da expedição que localizou o referido grupo. A descrição destes seres completa está no relatório da expedição, disponível na sintonia intemediária para os de acesso consciente, ou no sistema de conexão geral, para os outros.
Os terráqueos se dividem internamente em muitos grupos, e estabelecem relações variadas de dominação e influência. Entre os seus não se generaliza ainda a identidade geral do planeta, como é comum em seres não contatados. Glauser explica que a identidade planetária toma maior expressão quando se define em relação aos outros. Falam cerca de 6 mil línguas, das quais 5 mil são faladas por pequenos grupos, que mantém estratégias e performances diferenciadas de inserção na coletividade terráquea.
Cada subgrupo terráqueo produz sobre si a impressão de ser a representação fiel da humanidade. Os grupos que estabelecem uma dominação semiótica mais intensa sobre os outros, terminam de ter suas próprias concepções de humanidade interiorizadas por outros, que por sua vez as interiorizam de formas originais e particulares.
Os dados disponíveis sobre estes caras vêm da sistematização produzida pela equipe de Glauser. Ele explica que não foram os primeiros externos ao sistema local a conhecerem aspectos dos terráqueos, a manter contato, infelizmente. Os objetivos gerais da comissão são a desintrusão, a expulsão de outros externos que se infiltram á a décadas e roubam o maior bem dos terráqueos, a consciência, através da manipulação de seus desejos, impulsos e escolhas. E o de chamar para a responsabilidade do coletivo consciente a relação que se estabelecerá com este povo.
O sistema de proteção aos povos isolados traz inúmeros desafios. A idéia prioritária é a de não contato, a de protegê-los de externos inconscientes e de preservar a sua liberdade de rumos. Porém a manipulação imposta por externos nas últimas décadas envolveu lideranças dos terráqueos na dinâmica de abdução das consciências, de forma que a integração própria dos sub-grupos sofre injustiças fruto das distorções nascidas destes movimentos perversos.
O grande desafio a ser encarado pela comissão na construção de uma política para os terráqueos, na aplicação do sistema de proteção à este povo particular, será o de colaborar para a construção de uma consciência local integrada - passo necessário para a realização do contato formal e integrante - que permita aos terráqueos equalizar seus entendimentos acerca de seu próprio planeta. Libertá-los do roubo de energia efetuado pelos que os fizeram quase escravos de si mesmos, alheado-se sem saber de suas consciências, cuja potência fora dissipada para povos piratas. O plano da comissão é de que em 2012 se comece a implantar a proposta de proteção libertadora dos terráqueos.