quinta-feira, 28 de agosto de 2008

SOCIABILIDADE CORPORATIVA POPULAR

Nem só de manda chuvas encalacrados em mansões são feitas as corporações, as grandes, e as empresas, miúdas. As pessoas são o sangue que corre em suas veias, que filtram, alimentam e eliminam o fluxo da empresas. E as pessoas têm histórias de vida. A secretaria viviane, o analista Master Celso, o encarregado de compras que era João e virou carlos ao entrar na empresa. Não pode repetir o nome.
Por baixo das embalagens massificadas e uniformes, os ternos em 6 X, os blazers femininos ("adoro mulheres em trajes worker"), as pessoas entram num trabalho cheias de expectativas, de vontades, inseguranças, vergonhas, taras, receios, gulas, defeitos, perverções. Ninguém pergunta numa entrevista: "você é feliz? você tem amigos? você está buscando se apaixonar? Você é tarada? Você tem mal estar com unha do pé dos outros?". Claro que não, estamos ali pra trabalhar, não pra essas outras coisas todas para as quais temos o fim de semana e o intervalo das 18 às 8. Mas as pessoas, agente sabe, são unidades, cada um é um só, que leva para onde vai seu pequeno patrimônio psicolouco. Uns mais, outros mais ainda.
Os almoços e happy-hours próximos a avenida paulista são um prato cheio pra fuçar na vida dos outros, pra dar um de etnógrafo fofoqueiro sem pudores. Uns fazem média com o chefe, seguram o talher com medo de babar na frente dos peixes grandes. Uns não querem saber de nada e falam até das manchas das cuecas, contam a vida. Mulheres solitárias xavecam executivos chiques. (A gordinha olha meu prato, cheio de salada porque estava sem fome, e sem constrange com sua montanha de calabreza).
Nos botecos a mesma coisa mas na escala de outra cultura, a cultura de outra classe. Comerciais, executivos, pf´s. Futebol, fim de semana, churrasco da firma.
Todos convivem intensamente. Todos trocam mais do que relatórios, balanços e bons-dias. Conhecemos o ciclo menstrual das colegas. O jeito dele reagir a piadas. A paixão escondida. Olhamos em volta e existem várias outras mesas corporativas populares, como a nossa aqui. Que é melhor, pois nossa empresa é mais legal. Pois agente joga bola de sábado, bebe todo dia depois das seis, faz amigo secreto, fofoca, panelinhas, fim de semana na chácara. Busca se esconder e se relacionar desesperadamente. Outros amigos, outros meios, outros papéis, o que é aqui não encerra seu eu em seu sentido amplo. Ou não.