quinta-feira, 28 de maio de 2009

Uruvu oveve oo (STAND BY BLOG)

Por uns tempos ausentes postagens. ficarei com saudades do blog. Escrever é um dizer pensado. Pensar é um escrito dito pra dentro. Lembrarei deste espaço ao ver urubus secando a asa ao sol em altos galhos de árvores mortas, sem folhas.

MARIO

terça-feira, 26 de maio de 2009

Isolados


Antes das caravelas de Manoéis e Joaquins por aqui aportarem, nenhum índio vivia isolado. Alguns falam numa população de 5 milhões de nativos, que falavam por volta de duas mil línguas. Este mosaico impressionante de diversidade cultural e lingüística vivia num intercâmbio intenso: guerras físicas e xamânicas, trocas de bens, símbolos, mulheres, em redes de relações que conectavam os tupinambás do litoral aos doidos índios andinos passando pelos rincões longínquos das terras baixas amazônicas. Bens passavam nas mãos de vários povos até chegar a seu destino, num comércio onde muitas vezes a relação era mais importante que o próprio bem. Este fluxo denso de contato existia de tal forma que os povos tinham uma intrincada história de influências culturais mútuas, de “empréstimos” de elementos e de deslocamentos territoriais, de fusão e separação de grupos.
A imagem que temos dos povos indígenas de hoje em dia, desde as décadas passadas onde fomos os encontrando em nossa expansão extrativista, é geralmente fotográfica, ignorante dos processos históricos envolvidos nestas dinâmicas sociais; tal povo habita tal lugar, fala de tal jeito, usa tal roupa. O mosaico dos povos indígenas hoje é resultado da situação que cada um vivia – resultado das relações inter-étnicas sem branco – antes dos contatos conosco, da forma específica como este contato se deu para cada povo e da forma particular como cada cultura reagiu a esse assédio. Não que tenham findado as dinâmicas entre os povos indígenas, mas eles foram gradativamente se ilhando em seus territórios reservados.
Neste contexto histórico, diversos povos evitaram e evitam o contato direto com os inimigos brancos, geralmente com medo em função de experiências de massacres anteriores. Existem no Brasil hoje várias referências de grupos em situação de isolamento em todos os estados da Amazônia, até no devastado maranhão. São povos que vivem uma situação de extrema vulnerabilidade, fugitivos em sua terra, pois estão em geral assentados em ricas reservas de madeira, minérios, e especulação. Lugares sem lei, onde o estado se omite frente o peso dos interesses de um capitalismo que mata o selvagem.
A defesa de seus territórios e os argumentos de quem refuta esta defesa põem em evidência concepções divergentes de desenvolvimento a ser aplicado na nossa floresta. A constituição garante que um povo tem o direito ao usufruto exclusivo dos recursos de seu território original, ou seja, direito aos recursos para garantir sua sobrevivência física e cultural. Sobrevivência graças a um conhecimento milenar, com o qual muito temos a aprender para construir um caminho mediano entre a conservação radical e o desenvolvimentismo fumacento. Dizer que as terras indígenas atravancam o desenvolvimento do país é ignorar o tipo de desenvolvimento que os não índios aplicam em suas terras na Amazônia. Um desenvolvimento bom talvez pro dono, mas não pro Brasil; a opção por enriquecer rápido e deixar um rastro de caos ambiental e social, que não fomenta as bases para um desenvolvimento de longo prazo.

segunda-feira, 25 de maio de 2009


O MATUTO MOTA MATA NOS MATOS

SE MANDA DE MOTO

E SE METE NAS MOITAS.

MOFA, MATUTA, AMANSA.

UM MITO MAL, UM MALA,

O MATUTO MOTA.

MUITOS MANDARIAM À MORTE

- OU À MERDA -,

O MESQUINHO MUNDRUNGO.

O MENINO DE MOTA MORREU MATADO

E MOTA MINGUOU.

NAS MANHÃS,

AS MUITAS MARCAS DE MORTOS

NA MENTE DO MOTA.

sábado, 23 de maio de 2009

Jackson Flores - I

Como disse de Jakson, ele desvendava a mesmice operando em absurdo. Não era simples, mas ele estava experimentado para sim.
Homens vindos de longe tiraram as fotos e fizeram os cálculos. Estabeleceram as medidas e as projeções. A profundidade, a altura, o peso, a extensão, a expectativa, os prazos, as taxas, os disfarces, as mentiras, os preços, as saudades e as perdas alheias. Fizeram relatórios precisos e apresentaram aos superiores. Foram feitos requerimentos. Houve pressão. Os interessados ignoravam os interessantes.
Jakson Flores recebeu e produziu mensagens de morte. Algumas coisas ficaram duras. O amor virou uma categoria à parte, assim autônoma, em separado.

Fora descoberta uma mina de tintalita no vasto território onde Flores desvendava o traçado das trajetórias dos calangos quando infante. Onde sua linguagem se construiu na hermenêutica seca da areia ao vento. As pessoas que viviam ali – capinando as daninhas da mente e tirando o mofo dos sentimentos ao sol – não sabiam disso. Jakson, Hermes, Sombra boa, Marias, Apóstolo, Rubiany, Rifábia, Pitangas, Galo da serra cantador, piau, João, e os Cães vadios que vivem fora do tempo. Por não saberem não se afobavam, não temiam, especulavam o mistério com fé e coragem. E esperança de terem ajuda para seu sofrimento esporádico. Era uma gente toda operando em dureza e sonho.

A jazida era valiosa, disseram. Jakson titubeava e buscava refúgio no mesmo, que não era mais o mesmo, não se desvendava com desenvoltura local.

Desmatamento

A maior parte da madeira de lei extraída da frente de expansão na amazônia, por exemplo no norte e noroeste do mato grosso, é exportada. Os pequenos madereiros ou os grandes grupos que empreendem no local extraem madeira ilegamente de terras indígenas, áreas de conservação (em planos de manejos de fachada aprovados por órgãos corruptos), ou terras griladas, e vendem para corporações asiáticas, que são os maiores comerciantes de pisos do mundo. Num dado passo deste processo, estas madeiras são maquiadas de legais, ganham um "selo verde" de produto ecologicamente responsável, área de reflorestamento, essas coisas.
Estes entrepostos asiáticos exportam então a madeira para europa, onde viram lindas pranchas para os pisos de pessoas que não imaginam a matança que estão financiando. Tal cadeia enriquece alguns pilantras e alimenta a desgraça de índios e o colapso social que são as zonas de expansão. Isso tudo teria de ser divulgado, mas não interessa a quem está por cima da maionese no Brasil.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Manhãs paulistas


Névoa que disfarça a objetividade de números da mecanica cidade, hora boa de pensar na vida e sonhar distante brumas a dentro. Lembranças de cafés da manhã em padocas distantes, dos tempos que trabalhava na sul e saia 5 e meia, dos ônibus dormentes e das senhoras vendendo bolos e cafés nos pontos. A manhã é um íntimo partilhado, de sono e de casaco as pessoas levam seu conforto na face e tudo fica mais humano de manhã, e seus amores ficam a flor da pele, falo por mim. A noite seguinte está tão distante ainda e é como pairasse no ar um cheiro de infância do mundo, como tudo se renovasse numa chícara de pingado, e a vida voltasse para a terra numa jornada infinita.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Flash light

Uma semana em Brasilia num curso, duas semanas em rondonia numa vivência. Em contato com algumas pessoas que tem já uma longa história e tramam sobre os frutos de um trabalho. Seis dias andndo por um mato que tem dono, provavelmente os sirionó. Andando por cidades como alta floresta d´oeste, rolim de moura, presidente médici e Ji-paraná. Alta floresta tem do centro uma bela vista do horizonte, embora os horizontes de Rondônia estejam fodidos.
A imigração gaúcha está em todo canto, crianças que parecem de filme trepadas em carro em estradas que avançam compridas e lentas. Imigração corajosa mas com princípios inconsequentes, no mais das vezes.
Dois dias mais em Brasília e um suspiro parado no tempo, uma semana em Sampa