terça-feira, 16 de dezembro de 2008

+Cabeça do cachorro+

Olhando o majestoso e ácido Rio Negro. Chegamos ontem de volta aqui a cidade-aldeia, de volta de 7 dias de viajem. Subimos o Rio Negro e entramos no Rio Uaupés. Seguimos por esse rio e entramos então no Rio Tiquié, tudo isso dentro do Parque indígena do Alto Rio Negro. Subimos então até a região do Alto Tiquié, , até na comunidade de cachoeira comprida.
No meu grupo estavam dois índios Panará, que moram próximo ao Xingu, um Yanomami figuraça, um Guarani de Santa Catarina, dois Wajãpi e um Kaxuyana, além de mim e de um cara, Paulo, que trabalho no ISA xingu, gente fina. A viajem foi um tanto desgastante, passamos mais tempo no barco - desconfortáveis voadeiras - do que nas comunidades. No parque indígena do Rio Negro vivem misturadas 23 etnias, sendo as principais Tukano, Wanano, Desana, Tuyuka, Baniwa e outras que não lembro o nome. A língua mais falada é Tukano, que aglutina aos poucos as outras, principalmente em função dos intercasamentos. A escola Tuyuka, que visitamos, tem resgatado a lingua Tuyuca com força, são apenas 250 Tuyukas por aqui.
Ficamos dois dias numa comunidade Tukano-yupuhi e três dias numa área com várias comunidades Tuyuka. Vizitamos as escolas, conhecemos o modelo deles de escola, muito bacana. Movimento consciente de resgate cultural após mais de trezentos anos de massacre Salesiano. Muito bacana, mas um contexto muito diferente, complexo e sutil, que poucos dias possibilitaram ver uma minúscula brecha.
Participamos também de três festas - ai ai ai. Os Kasiris são diferentes do que eu estou acostumado, vêm sete mulheres, cada uma com um Kasiri diferente, e vc bebe sete cuias de cada leva. Rola também muito Padú, folha de coca pilada que se coloca em baixo da língua, e Rapé, feito de tabaco e soprado sua narina à dentro num osso oco de uma ave. Ossos pneumáticos, decorei no cursinho. Aí a galera dança sem parar, tocando flautas, até de manhã, dentro de uma grande casa cerimonial.

De como Jabuti enganou a Onça (quando todos eram gente)

Jabuti matou uma anta, e não conseguiu rasgar-lhe o couro. Foi até a onça pedir a faca emprestada. - Para quê vc quer a faca, jabuti? Só pra cortar um cipó velho alí da minha casa, onça.jabuti pegou a faca e voltou pra aldeia dele, mas a onça seguiu ele escondido. Chegou lá e viu Jabuti cortando a Anta. - Porque mentiu, Jabuti? Já que eu tô aqui, deixa eu te ajudar a cortar essa anta, disse a onça. Jabuti pensou "agora a onça vai querer ficar com a anta toda pra ela". Mas teve uma idéia. Quando onça acabou de cortar a Anta, Jabuti disse: agora que vc me ajudou, vem comer, onça. Jabuti deu uma cuia de caldo de anta pra onça, mas muito quente, quase fervendo. Quando onça pôs cuia na boca, jabuti empurrou, virando tudo na cara da onça, que se queimou. - vai lavar seu rosto no rio, onça - disse o Jabuti. Quando onça foi pro rio, Jabuti fugiu e escondeu a carne da anta.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

SALTOS ORNAMENTAIS

morar numa redoma de objetos e relações que fossem separadas da natureza. Deixar bem claro que por mais que fosse linda, a natureza era outra, o alter ego do nosso eu, onde vivia um outro outro, selvagem, índio, bárbaro, que precisava evoluir aprendendo conosco como se desligar do tosco.
E assim fomos vivendo nossa vida. os cientistas, paladinos da cultura, subiam à luz e traziam as respostas acerca da natureza, respostas quase que divinas e inquestionáveis. Eles são os sacerdotes que acessam a verdade que orienta nossa conduta. Eles cruzam a ponte do nosso mundo, da cultura, e vão na natureza, cheios de instrumentos culturalizantes, e trazem as respostas.
Um reboliço grande. Tempestades, enchentes, expectativas de tempos difíceis. Uma grande chuva aumenta o preço da comida. Um estrada impede a migração de sapos, o que numa cadeia incompreensível em nossos paradigmas, diminui a produtividade de sei lá o que. As poéticas borboletas são importantes para polinizar flores. Somos jogados de volta no meio da natureza. Bem no meio. E agente se olha com cara de bosta. E os paladinos sacerdotes não têm todas as respostas, suas saídas repentinas da caverna não bastam mais. A caverna pode alagar com o derretimento das calotas...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Com a crise os Americanos ficaram com menos grana e passaram a comprar menos carros. As montadoras de detroit estão num severo perrengue. A economia desaquece, a produção esfria e a chapa esquenta. caindo a produção dos carros desacelera toda a cadeia produtiva dos carros. Uma pá de coisas grandes e pequenas que vem de vários lugares. O ferro - matéria prima principal dos carros -, boa parte do que vai pra detroit, vem das minas da vale no Brasil. No pólo siderúrgico de açailândia, no maranhão, que transforma o ferro bruto da vale em ferro gusa, a preocupação é grande. As 5 usinas do terceiro município maranhense são a principal fonte de trabalho na cidade. O negócio já é feio lá, trabalho em carvoaria é embassado, trabalho escravo vários flagras, mas parece que a coisa tá mais embassada ainda.
não to muito ai pras montadoras, mas o povo de açailândia tá.