domingo, 31 de janeiro de 2010

POR 2 POR quê?


Por quê por 2 sair e mudar, por que por dois dispender recurso, por que por 2 mobilizar pessoas e granas, e comprar brigas, e se meter em meios, e impedir, e embargar? Porque são dois por todos, por outros de quem trazem histórias, de quem trazem uma língua e uma visão de mundo e uma existência, uns gens, uns cortes de cabelo, umas coisas. Umas músicas até, e umas flautas, e uns jeitos de matar comida, de coser. Porque são só dois acuados porque outros de nós lhes apertaram contra a parede, contra as árvores, e lhes deixaram em situação ruim. Porque nossa guerra frente eles trouxe talvez tretas novas no grupo que os fez se separar. Que talvez lhes tenham matado os parentes todos, e imagina dois que perderam tudo, se fossem dois de classe média alta, brancos e sadios, bonitos, dos dentes brancos e de boa cultura, se não se teria dó, se não haveria comoção e doações de recursos e psicólogos e tantas coisas mais. mas a vida tem mais valor quanto mais inserida em nosso paradigma é a pessoa, e assim muitos me questionam, por que por 2. E eu fico meio puto com esse incômodo dos outros. Por dois, por um, foda-se, humanidade não tem rótulo nem número.

MEU PARCEIRO JAMANTA, AMIZADE OLFATIVA


Se eu tivesse em são paulo sairia, veria amigos, seria bom, sacearia anseios do espírito e do corpo, procuraria coisas que talvez achasse, que me fazem falta, mas em todos os lugares algumas coisas faltam, e viver é escolher com quais faltas se pode have a deal.

E umas coisas que vivo são ímpar e me fazem feliz. Uma delas é um amigo estranho que fiz. Ele é um bicho. Já tive amigos outros também bichos. Cachorros em geral, como de praxe, dava abraços e tal. Quando pequeno tive uma coelha chamada raquel, que morreu.

Mas outro dia no barraco veio uma anta, um macho, bem perto, comendo brotos de mandioca. Cheguei bem perto, tipo dois metros. Ele me olhava, comendo, tranquilo. O nariz dele é tipo uma tromba de elefante diminuída, miúda. Mexia ela, rodopiava pelo ar, como me mapeando pelo cheiro, e eu não tava lá muito cheiroso. Mas acho que ele foi com minha cara, ou com meu budum. Ficamos ali, perto, eu conversava com um outro parceiro (humano) falando alto, e ele nem ai. Olhei no olho dele e ele no meu.

Outra noite, anteontem na verdade, eu tava com uma certa insônia. Aquela que você deita com sono mas vem à mente coisa várias da vida, situações e soluções projetadas, e você anseia. Ai ouvi uns meio cacarejos das galinhas, depois uns cacarejos todos, uns gritos, uma nóia delas. Achei que era a onça, peguei a 22, fui lá com a lanterna, desperto de um sono desperto. Passei a casinha do banheiro e foquei pro lado do galinheiro, dei de cara com dois olhos brilhantes bem perto de mim, falei fudeu, a onça bem aí. Mas era o jamanta, tranquilão e noturno, tentando entrar na horta. Me olhou como criança fazendo merda. Cheguei bem perto. Reconheci que era ele pelo carrapatão criado, na pata. Um filhotão, magro. Apaguei a lanterna, a lua bem forte, alta. Ficamos na luz da lua, e ele estava bem em paz. Bem em paz mesmo, tranquilo. reclamou um tanto e vazou, se embrenhou na capoeira. Mas ele confia na gente. Acho que ele é até amigo nosso.