domingo, 31 de janeiro de 2010

MEU PARCEIRO JAMANTA, AMIZADE OLFATIVA


Se eu tivesse em são paulo sairia, veria amigos, seria bom, sacearia anseios do espírito e do corpo, procuraria coisas que talvez achasse, que me fazem falta, mas em todos os lugares algumas coisas faltam, e viver é escolher com quais faltas se pode have a deal.

E umas coisas que vivo são ímpar e me fazem feliz. Uma delas é um amigo estranho que fiz. Ele é um bicho. Já tive amigos outros também bichos. Cachorros em geral, como de praxe, dava abraços e tal. Quando pequeno tive uma coelha chamada raquel, que morreu.

Mas outro dia no barraco veio uma anta, um macho, bem perto, comendo brotos de mandioca. Cheguei bem perto, tipo dois metros. Ele me olhava, comendo, tranquilo. O nariz dele é tipo uma tromba de elefante diminuída, miúda. Mexia ela, rodopiava pelo ar, como me mapeando pelo cheiro, e eu não tava lá muito cheiroso. Mas acho que ele foi com minha cara, ou com meu budum. Ficamos ali, perto, eu conversava com um outro parceiro (humano) falando alto, e ele nem ai. Olhei no olho dele e ele no meu.

Outra noite, anteontem na verdade, eu tava com uma certa insônia. Aquela que você deita com sono mas vem à mente coisa várias da vida, situações e soluções projetadas, e você anseia. Ai ouvi uns meio cacarejos das galinhas, depois uns cacarejos todos, uns gritos, uma nóia delas. Achei que era a onça, peguei a 22, fui lá com a lanterna, desperto de um sono desperto. Passei a casinha do banheiro e foquei pro lado do galinheiro, dei de cara com dois olhos brilhantes bem perto de mim, falei fudeu, a onça bem aí. Mas era o jamanta, tranquilão e noturno, tentando entrar na horta. Me olhou como criança fazendo merda. Cheguei bem perto. Reconheci que era ele pelo carrapatão criado, na pata. Um filhotão, magro. Apaguei a lanterna, a lua bem forte, alta. Ficamos na luz da lua, e ele estava bem em paz. Bem em paz mesmo, tranquilo. reclamou um tanto e vazou, se embrenhou na capoeira. Mas ele confia na gente. Acho que ele é até amigo nosso.

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