segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Origem do Fogo, Socó e Ariranha

Num Casiri, os antigos ficaram muito bêbados. Pegaram flauta de janejarã ("nosso dono"), e ficaram brigando para ver quem ia tocá-la. Janejarã gosta muito de tocar flauta. Os antigos deixaram cair a flauta e ela quebrou. Janejarã ficou muito bravo e foi embora. Disse que não queria mais morar com os antigos. Ele foi embora sozinho. A mulher de janejarã estava grávida de gêmeos, e eles falavam de dentro da barriga -"bora minha mãe, atrás de nosso pai, agente mostra pra vc o caminho". E foram atrás de janejarã.
-"Pega folha pra eu brincar minha mãe", disse um dos gêmeos. Ela foi pegando umas folhas pelo caminho para distrair os dois. Quando foi pegar uma dessas, marimbondo que tava na folha mordeu sua mão, e ela ficou muito brava: - "Por que vocês ficam me pedindo folha? Agora marimbondo me ferrou!" -, e bateu neles. Os gêmeos ficaram com raiva da mãe e decidiram não falar mais para onde ia o caminho. A mulher de janejarã seguiu então o caminho da onça, e achou jawarajarã, o dono da onça, que disse que queria tê-la como cria. Mas depois essa onça ficou com fome, muita vontade de comer carne, e matou a mãe. Abriu-lhe a barriga e tirou os dois gêmeos. - "Vou criar". Escondeu os dois embaixo do barro. Quando filhos da onça chegaram disseram -"que cheiro é esse minha mãe, eu quero comer." -"Não, minha criação ninguém vai comer", respondeu a onça.

Depois o Mutum cantou "FIU,FIU", e contou para eles onde mãe da onça tinha matado a mãe deles. Foram lá e acharam os ossos, e um dos gêmeos começou a montar de novo como era a mãe deles. Quando tinha já quase conseguido, seu irmão chorou "minha mãe, minha mãe", e os ossos caíram todos. "Vou fazer de novo, mas agora você não pode chorar, meu irmão; você não quer ver como vivia nossa mãe?" E ele montou de novo como era mãe dele, demorou muito. Quando quase pronto, irmão dele chorou de novo e caiu tudo novamente. Depois de mais uma tentativa levada ao fracasso pelo choro do irmão, ele desiste: "agora não vou mais montar como era nossa mãe, você sempre chora e me dá muito trabalho." Eles foram embora muito bravos com a mãe da onça, que matou a mãe deles.

Enquanto isso todos os filhos da onça tinham ido caçar. Começou a chover muito e o rio cresceu demais. Os filhos da onça vinham voltando trazendo panakõ cheio de caça, e tinham de cruzar o rio por uma ponte. Quando estavam no meio da ponte, piranha quis roer o pau com o dente que parece serrote. Roeu, roeu, e dois filhos da onça caíram no rio. Um deles teve que nadar muito, e virou ariranha. O outro teve que voar para poder fugir, e virou socó.

Os dois filhos de Janejarã, para escaparem da inundação, subiram no alto de um pé de bacaba. O rio quase chegou lá em cima. "Vamos jogar bacaba no chão pra descobrir quando o rio já baixou." Jogaram e TÓIM, ainda tinha água. Jogaram de novo e POM, água tinha baixado. Quando chegaram embaixo, tava cheio de peixe quase morrendo na terra. "Bora fazer moqueado de peixe meu irmão, mas como agente vai pegar o fogo? Lá tá o Urubu fazendo fogo, bora buscar fogo com o Urubu". Buscaram o fogo e ficaram fazendo moqueado de peixe.

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