quinta-feira, 4 de março de 2010

Amazônia de ontem e de manhã

Conversando com o pessoal da velha guarda, indigenistas e outros de outros cantos, ouço bastante o tal do "no meu tempo"... Olhares de antigamente que enxergam o hoje com outros olhos, que viram a metamorfose, as sínteses que foram rapidamente mudando estes rincões. Contam dos lugares mais isolados, dos vagos mais espaçados, de vastas árvores onde hoje tem pastos, de regiões de índios antigas, hojes habitadas por bois. Relatos até difíceis de imaginar, vindos de olhares sábios.
E eu fico pensando como será o mundo, e como será a Amazônia, quando eu estiver contando que "no meu tempo"... Vou dizer que no meu tempo as fronteiras eram empurradas a passos largos. Que no meu tempo havia no ar uma mistura de esperança com caminhos alternativos e uma certeza do inevitável desenvolvimento, do porvir humano. Que no meu tempo se falava que o país devia crescer e eu achava que tinha que diminuir e distribuir, que tinha que envolver e não que desenvolver. Que no meu tempo apesar do avanço de tanta coisa a amazônia ainda era vista como um oeste americano a ser varrido e plantado. Vou dizer que no meu tempo eu sentia uma angústia quanto ao que todos diziam que ocorreria, que a tirada do mato depois de um ponto era irreversível, e que não tinha jeito, "a vida é essa". Que essa angústia misturava na goela com o pó do barro da estrada hoje (amanhã) asfaltada. Vou dizer que naquele asfalto eu já atolei muito. Que no meu tempo essa região era habitada por caminhoneiro puxando madeira, por peão de boiadeiro, por gente humilde e solidária, que era a mão de obra, o executor de um projeto destrutivo no qual não tinham opinado. Que para ganhar o pão, trabalhavam para quem dominava o país e transformava a Amazônia num grande pasto para exportação, para pouca gente ficar rica.
Vou dizer também que no meu empo havia um conflito de forças e de interresses sobre a amazônia. De um lado uma parcela de gente que acreditava que a amazônia era uma riqueza não só financeira, mas um patrimônio espiritual, cultural, biológico, e coisas mais que não cabem na compartimentação de nosso saber. E de outro a maioria, que queria poder comprar os melhores eletrodomésticos e ter o melhor carro, e foda-se o custo global disso. E o problema, direi, era que os do primeiro time emperravam na burocracia para implementação das boas leis, na falta de articulação, e na falta e poder frente o segundo time, que era mais rico e controlava as esferas do poder em brasília.
Tomara eu chegue lá pra contar. Tomara não seja tudo uma savana, tomara quando eu conte meu relato não seja totalmente distante da realidade, que seja bem crível e pouco incrível. Tomara eu não diga "sorte minha que vi". Tomara, mas não sei não hein.

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