sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Dinheiro X Justiça X Mato

Reportagem publicada na folha dia 11/09 compara o desenvolvimento econômico dos municípios campeões em desmatamento na amazônia com o avanço de indicadores sociais - educação e saúde - nas mesmas localidades. Os 50 municípios com a maior extensão desmatada entre 2000 e 2006 na amazônia legal tiveram um crescimento de emprego e renda 35% superior à média regional, enquanto os indicadores humanos evoluíram 36% a menos na mesma região. Paragominas, no Pará, tem emprego e renda 14% acima da média e saúde 83% abaixo da mesma média (ìndice de desenv. municipal criado pela Firjan).
O Desmatamento é uma alternativa econômica que gera renda concentrada num curto espaço de tempo e empregos efêmeros. A consolidação das novas frentes atrai fluxos migratórios intensos de cinturões de pobreza como o sertão maranhense - onde a expropriação fundiária ocorreu décadas atrás -, pessoas em busca de uma terra, um emprego. Os empreendimentos não respeitam as leis ambientais nem trabalhistas, falta estrutura aos órgãos de fiscalização.
Após o boom de renda que a madeira gera, efêmero, a região mergulha num abismo caótico. A introdução do gado - passo seguinte ao desmatamento - corta a demanda por mão de obra e cria um grande contingente de desocupados, sem terra, sem educação, sem emprego.
Relatório do IMAZON de 2007 (link abaixo) aponta este modelo que chama de "do boom ao colapso": onde está ocorrendo o desmate, os indicadores são promissores; nas zonas desmatadas a 5 anos, o que se vê é um caos, altos índices de homicídios e conflitos.
O povo pobre destas localidades muitas vezes acaba absorvendo a ideologia desenvolvimentista dos patrões, defendendo a bandeira do progresso, sem ver que pouco interessa a eles e ao país esse rumo.
O debate sobre a amazônia fica polarizado entre os extremos radicais do desenvolvimentismo e do conservacionismo - e as verbas de pesquisa destinadas a um ou outro pólo -, rareando intervenções que melhoram mesmo as condições locais.
Este cruzamento feito pela folha - coisa simples - , e o relatório do Imazon mostram que a amazônia não é desmatada em nome do progresso e do desenvolvimento, mas em benefício de um classe de proprietários profundamente entrelaçada nas estruturas de poder do país. E mostram que o dinheiro em que se transformam as árvores derrubadas e os bois engordados não passa nem perto de melhorar a vida de quem derruba as árvores ou de quem tem a vida afetada pela transformação.

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