domingo, 12 de abril de 2009

Brasília, ou uma manhã inteira

Já vinha de algumas tantas noites uma superficialidade de sono que me incomodava. Para cada uma delas uma justificativa imediata, micro, se punha: karapanãs (mosquito), calor sufocante, neblinas mentais, ressaca. Hoje a manhã foi como o despertar de um sono que cruzou uma época. Minha noite foi densa e profunda, escura no bom sentido, reconstrutiva e equilibrante. Num sonho, estava com Dani, dé, eiel e João numa festa, onde falávamos descontraídos com umas moças bonitas.
Os primeiros minutos parados no tempo. Brasília com suas largas avenidas esvaziadas de carros neste domingo de páscoa. No silêncio do hotel vazio, só um pequeno zunido do motor do frigobar vibra entre um ar pesado pelo silêncio. Solidão? Não, paz. Depois de dias intensos, um mês que pareceu três.
No começo o andar por Macapá novamente, uma perene sensação de dejavú que demorou um tanto a passar. As ruas sem calçada, o rio majestoso, o sotaque ao qual rápido me adapto novamente. Consciência do pouco de história que tenho, que não é tão pouco assim já. O adentrar no trabalho, a necessidade imediata, imprevista, de me acolher num canto. Contrato, burocracias imobiliárias, e eu com os olhos vendados pelo lenço do momento que não me permitia ver um pouco mais distante. Fiz o que pude e o que dava.
Depois um desconforto na alma, aquelas sensações dificilmente racionalizantes que nos entra pela barriga, e muitas vezes não sai. Uma rotina para a qual nunca estive preparado, nem quero estar. Macapá é uma boa cidade, promissora, local para empreendedores, mas um tanto árdua para um forasteiro, acostumado a comodidade das padarias paulistanas. As coisas distantes, os serviços dos quais eu dependia, escassos. Aprendo a não reclamar da vida, Babá me disse que não adianta. Segui firme, cabeça levantada, mas com a certeza de que não era para ser daquela forma. E por umas outras tantas razões também que não vale a pena externalizar aqui, dada a publicidade do instrumento.

Algumas gotas d´água e uma decisão, uma decisão incerta mais segura, como se pôr num caminho cuja distância não conheço, de forma que não podia calcular os suprimentos. Mas caminho também se faz andando, e sabê-lo e muuuito diferente de percorrê-lo. A decisão me trouxe certa angústia, pelas relações com os envolvidos, por uma ética que preciso entender melhor (para não ter culpas indevidas), e por cair no mundo sem dinheiro no bolso. Mas o caminho apareceu entre a folhagem do chão. Uma oportunidade de ouro surgiu, a utopia de quem sabe trabalhar de novo em algo que acredito. E aqui estou naquela manhã cinza de Brasília, reconfortado pelos objetos que me cercam inertes no meu movimento e pela completude que sinto fechando os olhos.

Um comentário:

Valentine disse...

Para você amigo querido, desejo que continue sempre começando e recomeçando com a certezas e incertezas das escolhas dos caminhos. Sei que será feliz neste novo caminho, por ser novo, por ser no mato, por ser seu.
Espero que nossa viagem ainda esteja de pé - e pronta para caminhar em outras terras longinquas.
um beijo meu