segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

MA PLESSIS


Desde que nasci morei numa pá de cidade, uma dezena talvez. Casas então, incontáveis mudanças. Uma lembrança que tenho da infância é minha mãe entre várias caixas e jornais, embalando nossa tralha. São Paulo, Campo Grande, São Paulo de novo, Mairiporã, Petrópolis, Saquarema, Niterói, São Paulo, Macapá, São Paulo.
Nessa peregrinação desvairada eu não fixei muitas raízes, mas as criei voadoras, que se fixam em tipos diversos de solo. Infância plástica e ensolarada. Muitos lugares formam o traçado que fez eu. Mas embora eu tenha dificuldades em me firmar paulistano, em ser feliz no cotidiano da metrópole depois de conhecer outras vidas, meu lugares são paulistanos. Os lugares que mais me dizem coisas de mim mesmo.
Saía eu da casa de meu amigo té, e vagava por uma rua tranqüila das perdizes. Ao longe, avistei dois prédios, um no qual minha vó comprou um apartamento com meu vô ao chegarem no bairro, acho que entre fins dos anos 70 começo dos 80. (no lugar da Sumaré, havia um córrego, disse vovó). Outro no qual morou minha tia. Nesses dois apartamentos moram minhas lembranças distantes da infância, natal, brincadeiras, tardes com a vó. Ali convivi com meu vô, ali eu morava quando ele morreu. Ali eu conheci os primeiros brothers quando voltei a São Paulo, com 11 anos, que persistem até hoje. Ali briguei, apanhei, bejei na boca, provei da vida adolescente.
De uns anos pra cá, um outro lugar que virou meu pra mim em SP é a Barra Funda. Gosto da Barra Funda. Primeiro minha mãe alugou uma casa na Lopes Chaves, onde faz sua feijoada já tradicional. Numa casa que já nos chegou com história, já que meu sogro na época brincara por aquele quintal quando infante, e povoou a memória então vazia para nós daquele espaço. Morei então na mesma Lopes chaves, por quase dois anos, com meu amigo Paulo.
Regresso de Macapá, cá estou de volta, na tranqüila e provinciana rua Camerino. Meu irmão já trabalhou em seu estúdio na Vitorino Carmilo, hoje na Marcondes Salgado, outro que intervém em memória na minha relação com um espaço do qual aos poucos me aproprio. Gosto de ouvir sambas de Geraldo Filme falando do largo da Banana e sentir que hoje me diluo um pouco nesta história. Pertencer é se diluir, recorrer aos outros na busca de eu que se renova sempre, se aprofunda.

Um comentário:

Valentine disse...

adorei! me fez pensar nos meus lugares raizes.ci