quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

médio xingu, que eu não conheço

As relações dos diferentes representantes da frente de colonização com os grupos indígenas que habitam a região do médio Xingu foram historicamente pautadas pelo controle dos movimentos territoriais destes últimos; pela sedentarização ao redor de postos de assistência e consequente liberação dos territórios à exploração econômica.

As primeiras alterações na ocupação territorial causadas pela presença de colonizadores europeus na região foram fruto dos aldeamentos de missionários jesuítas nos séculos XVII e XVIII. A missão de Tavaquara, primórdios da cidade de Altamira erguida em meados do século XVIII, promoveu a primeira divisão territorial e sócio-cultural envolvendo Xipaya, Kuruaya, Juruna e Arara.

Já entre meados do século XIX e início do século XX, o boom da exploração seringalista trouxe grandes transformações nas relações entre os grupos indígenas. A organização do calendário e a ocupação do território sofreram transformações, com a incorporação em maior ou menor escala desta atividade produtiva. A região do sul do Pará e, mais especificamente, o médio Xingu, apresentava-se durante a década de 1940 como a mais violenta área de conflito entre índios e frentes de penetração nacional, representadas pelos extrativistas de seringa e castanha do Pará.

Outro fator de reconfiguração territorial nesta época foi a expansão para norte de grupos Kayapó pressionados pelo incremento da Pecuária mais ao sul.

No decorrer do século XX, a queda na demanda pela borracha esfriou o ímpeto da extração seringalista. A partir da década de 70 se inicia na região a fase desenvolvimentista que se implementa até os dias de hoje. Dentro do novo paradigma, os povos da região do Médio Xingu foram a princípio tratados menos como integrantes da sociedade nacional, detentores de direitos territoriais originários, e mais como inimigos do desenvolvimento e integração nacional representados pela abertura e exploração econômica dos territórios.

Após a garantia constitucional de seus direitos ao território, entendido como meio ambiente e espaço cultural indispensável à sua reprodução física e cultural, os grupos indígenas do médio Xingu vêm enfrentando o desafio da aplicação destes direitos na prática, na política real. Por serem tais territórios terras onde não se aplica pragmaticamente a lógica do desenvolvimento e da produção, os grupos indígenas enfrentam forte pressão dos que defendem a modernização e o modelo de desenvolvimento econômico em larga escala.

Após os aldeamentos missionários, a exploração seringalista e o desenvolvimentismo dos últimos 40 anos, a região do Médio Xingu entra numa nova etapa da ocupação não indígena do território, com a implementação de grandes projetos e empreendimentos de desenvolvimento. Grandes áreas de mineração, pavimentação de estradas e usinas hidrelétricas são os principais empreendimentos dentro deste novo paradigma de uso dos recursos amazônicos.

Pela grandeza destas empreitas, a dimensão de seus impactos e a rapidez das transformações que desencadeiam são ímpares na história da ocupação colonizadora na região. Após resistirem a formas e ondas diversas de ocupação de seus territórios, muitas vezes redefinindo estratégias e reinventando a si próprios, os grupos indígenas do médio Xingu terão de agora em diante o desafio de compreender a dimensão e a complexidade das transformações sociais, ambientais, econômicas e demográficas da região para poderem elaborar estratégias efetivas de proteção e gestão de seus territórios tradicionais, seja através da manutenção e fortalecimento de sua gestão territorial tradicional, seja através da construção de novos referencias frente aos novos desafios.

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