segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Aguardando Cristo

Era um grupo de mulheres da zona sul, moravam nas imediações ali do Jardim Monte Azul, bem, onde a M´boi Mirim (M´boi=cobra, mirim=pequena, mais ou menos) acaba e bifurca. Eu comecei a trabalhar com o grupo no andar da carruagem, elas já vinham juntas há tempos. Tinham o plano de montar uma revenda de fraldas descartáveis no bairro. No primeiro dia que cheguei, na entrada da igreja -local do encontro - terminava uma feira, se desmontava. Afora as pessoas catando os restos dos legumes no chão, me impressionou uma mulher carregando uma carcaça de boi, parecia um quadril, só o osso, sujo, que pegara do chão. Viraria um caldo, presumi. Crueza. Eu havia almoçado há pouco, digeria ainda aquilo tudo.
O diálogo com o grupo era com sua líder, mulher imponente, decidida, segura. Percebi que eram todas evangélicas fervorosas e que aquela liderança vinha da igreja, de outra esfera de relações.
Tocamos o barco. Pesquisamos os preços das lojas em atacado. Vimos os fornecedores. Pesquisamos o mercado: as mães e parentes na frente da creche no bairro. Disseram que comprariam pelo preço que projetávamos. Alugaram uma lojinha, que um dia amanhecera cravejada de bala. Disseram para eu não ir mais de carro. Na lojinha iam vendendo umas roupas antes de estruturar o negócio. Fizemos o plano de negócio, condição para pegar o empréstimo no banco do povo, microcrédito da prefeitura petista. Tudo parecia fluir, eu me animava com a possibilidade de ver um grupo decolar, depois das degringoladas que presenciara em outros, em quase todos, na verdade. Fomos lá na semana do empréstimo, entramos e a mulher nos disse logo, direto: desistiram. Paravam ali. Não queriam mais. Perplexos, eu e minha colega. Bonita ela, aliás, a colega.
Mas como assim? Por que?
- Esperávamos até a última hora por um sinal de Cristo para pegar o empréstimo. mas ele não mandou.
Nunca mais as vimos.

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