sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Feito feitiço


A viagem seguia bem. Da ida, algumas lembranças não me saem da cabeça. Um Tapiri pequeno com umas 6 redes amarradas, várias crianças, o pai e as duas mães-irmãs administrando a todos. Presenciando a vida em família via como são diferentes as formas de ser no mundo, como nas minúcias das reações se pode aos poucos conhecer outras cabeças.
Tudo caminhava bem, alguns desconfortos de sempre, compensados pelas conversas na fogueira de noite e pelas pescarias. Num dia ele jogava ovos de cupim com uma erva venenosa rio acima, e eu pegava os peixes tontos no raso, abaixo. Brincando de Lontra, ele dizia.
Um dia ouvimos um som bem agudo ao longe, uma voz de mulher. Com gritos estridentes transmitem frases ao longe. Confusão no início, não entendiam o que era. De repente saem os dois correndo, e eu atrás. Chegamos na aldeia e o Professor estava baleado acima um pouco do quadril.
Ele fora caçar numa direção e o cunhado noutra. Mas deram uma volta imprevista por trás da serra, seguiram para o mesmo ponto. O cunhado ouviu um barulho no mato, pressentiu um cateto. Mirou nas folhas e apertou o gatilho. "Quem tá me atirando ai"?
Aflição pela causa do para mim até ali acidente: feitiço. Fora vítima de um feitiço que o deixara como um cateto. "Eu tava fedendo a cateto na hora, meu cabelo tava como o de cateto". "Ele tava como um cateto", disse o cunhado.
Apreensão no rádio, de manhã a notícia da vinda do helicóptero. Limpamos uma capoeira. Espreitei uma carona, mas não deu.

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