quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Açailândia

Açailândia quase não têm Açaí. Dizem que nas beiras de alguns córregos alguns ainda crescem. mas não há tukano por ali, nem papagaio, que os venha comer na estação que ficam pretos. Açailândia fica no Maranhão, quase na fronteira com o Pará, numa região que se veres no mapa é Amazônica. Imaginei grandes árvores por lá. mas só vi pasto, muito capim para pouco boi. As únicas árvores, eucalipto e mangueiras.
Eucalipto plantado para fazer carvão, muito demandado na cidade já que abriga cinco siderúrgicas, produtoras de ferro gusa. O ferro bruto vem pela ferrovia, das minas da vale do Rio doce em carajás, a fatídica cidade dos 19 mortos. O carvão é usado não para aquecer os fornos, mas entra na composição mesmo do ferro gusa, dá a liga ao metal. Embora uma parte venha de plantação de eucaliptos, a grande maioria do carvão é mata primária amazônica carbonizada, vinda das regiões de expansão agropecuária. Nosso ferro gusa é um dos melhores do mundo pela pureza do carvão, variável importante nas etapas subsequentes de transformação do ferro em aço. Feito o ferro gusa, esse segue para São Luís, e de lá e exportado quase 100% para os EUA, onde vira aço e nutre principalmente a indústria automobilística americana. Não é radical dizer que uma parte considerável da mata paraense está virando carro de gringo.
Nosso ferro concorre competitivamente também no mercado internacional dado os baixos custos de produção. Diversas sidrúrgicas já foram indiciadas por usar o trabalho escravo na produção de seu carvão, diminuindo seu ônus na cadeia produtiva. A base de nosso mato e do sangue dos Maranhenses, agente equilibra a balança comercial e meia dúzia de sulistas empreendedores fazem fortuna no norte braileiro.
As cinco siderúrgicas locadas em açailândia, preocupadas com sua imagem envolvida em escândalos de trabalho escravo, criaram juntas o ICC - instituto carvão cidadão, que visa fiscalizar ascondições de trabalho nas carvoarias. Algumas delas visam a auto-suficiência na produção de carvão, plantando eucalipto em sistema de rodízio. Açailândia tem pastos até onde a vista alcança e pó de ferro no ar. tem também números preocupantes na questão do trabalho escravo.
Pode soar radical de minha parte dizer que alguns produtos brasileiros tem competitividade no mercado internacionalç às custas do sangue de maranhenses e piauienses, mas não é. 25 mil pessoas entram no círculo vicioso do trabalho escravo no Brasil anualmente. Apesar da intensificação da fiscalização, apenas uma condenação até agora, e o réu ainda está solto. O grande bolsão de pobreza do sertão maranhense, piauiense e tocantinense é uma grande reserva de mão de obra explorável, escravizável, descartável, usada para derrubar a amazônia e plantar soja ou pasto, fazer carvão ou tábuas.
Seria impossível um modelo de desenvolvimento cujas riquezas geradas ficassem por perto de sua origem, no caso amazônico? um modelo diferente do ciclo boom-colapso típico da economia amazônica?

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